Quando o mundo ainda era jovem, e as árvores eram sementes, e os rios eram nascentes, e as montanhas cresciam, criaturas começavam a habitar esses espaços que ainda eram tão jovens e tão virgens.
Nasceram primeiro os Dragões, detentores de toda a sabedoria e magia desse mundo. Das florestas surgiram os verdes, do fogo, os vermelhos e os dourados, das quentes areias do deserto, os azuis e os de latão e das frias geleiras os branco e os prata, dos pântanos, os negros, das frescas águas os bronze e os de cobre das rochas.
Ao mesmo tempo, nas grandes minas nasciam outros, de esmeralda, cristal, rubi, jade e diamante.
Surgiam, também, pequenas criaturas que como os dragões povoaram as terras vastas, os elfos, os humanos, os anões, os grifos, os gobblins, halflings, trolls, orcs e centenas de outros tipos de criaturas.
Aos poucos, divindades foram sendo criadas e essas criaturas adotavam-nas. Divindades bondosas e divindades malignas, equilibrando todo o sistema. E os dragões criaram os seus deuses. Infelizmente, a criação dessas divindades dividiu seus seguidores.
Dragões que dividiam seus territórios uns com os outros, amigáveis, sociáveis, ajudando uns aos outros e aos outros povos, com sua sabedoria e magia. Mas esses deuses colocaram fim nessa amizade. Tiamat, a grande deusa maligna, criada a partir de cinco dos mais fortes dragões cromáticos, azul, verde, vermelho, branco e negro. Bahamut, bondoso senhor dos metálicos, latão, cobre, bronze, prata e dourado. E ainda, um senhor para os psiônicos, esmeralda, cristal, rubi, jade e diamante.
Três grandes cidades, se tornaram inimigas entre si, guerras começaram, cada tipo brigando por seus territórios, que até então eram comuns a metálicos e cromáticos.
Os cromáticos decidiam sua hierarquia pela força física, o mais forte era o rei. Os metálicos pelas riquezas, o mais rico era soberano sobre os outros. E os psiônicos pela sabedoria e pela arte, imperador era aquele mais sábio e detentor de mais obras de arte.
Os maiores inimigos eram de tipos contrários, vermelhos e pratas, brancos e dourados, azuis e latão. Mas as cidades estavam intactas, não se atacavam e eram proibidas de atacar sua inimiga. Disputas ocorriam do lado de fora, nada poderia ferir sequer um tijolo da cidade inimiga. Era o equilíbrio da espécie. Para existirem, deveriam manter suas cidades intocadas.
Mas a guerra se alastrou, atingiu os outros povos, logo eles tinham tanta sabedoria e tanto poder mágico como qualquer outro dragão. Surgiram as piores criaturas que esses enormes já haviam conhecido, os caçadores de dragões, muitos grupos de humanos tinham armas capazes de feri-los, e feriam e matavam e sobreviviam à custa de suas peles.
Mas o maior pecado foi cometido por uma sacerdotisa cromática. A cidade metálica fora atacada e caiu para os cromáticos. Não demorou tanto tempo até os cromáticos caírem e, logo em seguida, seus antigos irmãos psiônicos. Um a um, os dragões foram sendo mortos, caçados e a névoa começou a tomar conta das mentes das criaturas que um dia foram soberanos no mundo.
Mas a névoa é cruel e começou a engolir todos os povos, bondosos, malignos. Deuses e mortais, elfos e humanos. Aos poucos, aquele mundo foi corroendo, e dando lugar ao mundo que é visto pela janela, florestas de prédios, caminhos de asfalto, pássaros de ferro alimentados com combustíveis, peixes de entulho em rios e oceanos de petróleo, montanhas de carros. Mas antes que tudo mudasse, um Deus, ajudou cada uma das criaturas, isolou em um continente, além da visão dos humanos de hoje, cada tipo de criatura. Salvou dragões e elfos, e tenta ressuscitar deuses.
Os dragões são incapazes de enxergar como seu orgulho e ganância pode ser capaz de destruí-los, e tentam, cegamente, manter uma guerra que desde o começo era infrutífera. Não há mais espaço para nenhum tipo, seja ele do deserto ou da geleira, dos vulcões ou das florestas, nesse mundo cinza e enevoado. Alguns não sobreviveriam sequer uma semana nesse pequeno terreno sujo e úmido e frio. Mas alguns aprenderam, se adaptaram, reformularam suas crenças, seus valores e mesmo não deixando seu orgulho e sua ganância, até aprenderam a conviver melhor uns com os outros. E a sacerdotisa que ajudou na queda da cidadela metálica continua no mundo, dormiu e acordou, viveu num mundo sonhado onde criaturas como as antigas vivem, elfos e drols passaram a ser chamados por nomes com Sidhe Seelie e Sidhe Unseelie, monstros lendários no passado são chamados de quimeras nesse mundo chamado Sonhar. Muitas criaturas se refugiaram na Umbra, um lugar entre esse mundo e algum outro lugar onde ninguém sabe o fim, algo etéreo e espiritual.
Medo, sentimento que corroeu lembranças de tempos lindos. Ódio, provedor da destruição do nosso mundo.
Os dragões da Terra têm tentado se relacionar. A cromática com o grifo e estes com metálicos viventes aqui. União que em outrora seria inaceitável e impossível, metálicos e cromáticos, e estes com grifos, seu alimento favorito. Mas nessa Terra tudo é possível e permitido. Inclusive um dragão se apaixonar por outro que não seja da sua espécie, adotar um filhote que não seja sua verdadeira cria, chocar um ovo que não lhe pertence e ainda pensar em ter os seus.
Renascer das cinzas, retroceder a um ser inferior à grandeza de um dragão grande ancião, para renascer como uma criatura melhor, para fazer dragões ainda vivos repensarem seus valores, tornarem-se irmãos novamente, ressuscitar a sabedoria que antes era só deles, reerguer o mundo que ajudaram a destruir.
Valoroso foi ter a oportunidade de ser aprisionada na forma de meio-humana, para descobrir o mundo com olhos diferentes, menos arrogantes, orgulhos ou malignos, com mais bondade, amor e paciência. Entendendo o outro, ensinando ao outro o que é bom e como é bom estar vivo para ver um novo mundo, uma nova era e fazer parte dela.
Amar um ser diferente, aliar com o inimigo, ensinar a um amigo, adotar um filhote, chocar um ovo diferente e pensar nos meus próprios.
Ter nas mãos a arma que um dia matou muitos dos meus irmãos e inimigos e ter a certeza de que muitos ainda cairão por essa lâmina. O terror que ela me causa e a força que ela me dá. Pela força, talvez, no velho modo cromático, unir a irmandade dos dragões, matar os deuses do passado, eleger um novo, que agrade a cromáticos, metálicos, psiônicos. Que seja capaz de amar a todos não pela sua cor, mas por seu coração honrado. Um deus que seja forte, carismático e sábio. Para que possamos sorrir e nos abraçar como irmãos e irmãs que somos, todas as criaturas.
Por Paula.